A caminhada já acontecia há alguns dias. Havíamos encontrado algumas figuras pelo caminho e, o mais interessante, é que sempre éramos os mais jovens!! Havia pessoas de todo jeito: as metidas à galã; as metidas à sabichões; as tranquilas. Enfim, uma “sopa de Darwin”. Porém, uma delas excedeu TODAS as expectativas!
No primeiro albergue espanhol, na cidade de Porriño, encontramos um holandês, do tipo armário (era mais fácil pular do que dar a volta...), carregando um saco gigante e uma jaqueta de inverno para dentro do quarto. Cara “bolachuda”, de tão redonda que era, portava um “belo” cavanhaque e usava óculos. Enfim, uma figura. No início, não demos a devida atenção, afinal, cada um faz o caminho da maneira que bem entende. Porém, um pouco mais tarde, o Ian, nosso amigo australiano, disse que conversou com ele e, acreditem, ele não estava fazendo o caminho de Santiago. Na verdade, segundo contou-nos depois o próprio Holandês, ele havia feito uma aposta com seus 3 irmãos: chegaria na fronteira da França (não sei o que ele estava fazendo ali...) sem gastar um centavo sequer! Se conseguisse, cada irmão daria 1.000 euros!
Foi interessante acompanhá-lo, pois se hospedou em todos os albergues do caminho. A rotina diária consistia em, pela manhã, se “instalar” na porta de um grande mercado para mendigar e, quando estava satisfeito, ia para a cidade seguinte - de ônibus ou de trem (a barriga dele não deixava dúvidas). Em Redondela, cidade cujo albergue fica em uma torre medieval, ele mendigou em frente a um super-mercado com a seguinte placa: “peço para não roubar”. Não sei se fez sucesso. Mas, de qualquer forma, estava ele ao final do dia bebendo sua cervejinha. Aliás, era o que ele fazia ao final de todos os dias: beber MUITA cerveja. Em Pontevedra, uma das cidades do caminho, cheguei a vê-lo tomar 4 latas de 500ml, uma após a outra... E queria mais, pois veio me pedir uns trocados. Disse-lhe que se quisesse água compraria, cerveja não!
Após Padrón, última cidade antes de Santiago, perdemos contato. A última notícia foi que havia encontrado um patrício e, juntos, estavam pedindo esmola (daqui a pouco, devem fundar uma cooperativa, hehehe!). Durante o tempo em que o acompanhamos, percebemos que a história não era verdadeira (aposta com irmãos), apesar de ele não ter desmentido. Mas, não importa. Ele era (ou ainda é) boa gente. Segundo ele, chegou até a trabalhar em Araçatuba/SP: fez a tradução do manual de um aparelho de ultrassonografia.
Um detalhe que só agora me dei conta é que não sei seu nome, não sei sua cidade de origem, nem qual caminho iria fazer. Talvez, tenha sido uma das lições do caminho: não importava quem era a pessoa, de onde vinha, para onde ia. O que importava é que éramos companheiros de jornada. Isso bastava.
Beijos
No primeiro albergue espanhol, na cidade de Porriño, encontramos um holandês, do tipo armário (era mais fácil pular do que dar a volta...), carregando um saco gigante e uma jaqueta de inverno para dentro do quarto. Cara “bolachuda”, de tão redonda que era, portava um “belo” cavanhaque e usava óculos. Enfim, uma figura. No início, não demos a devida atenção, afinal, cada um faz o caminho da maneira que bem entende. Porém, um pouco mais tarde, o Ian, nosso amigo australiano, disse que conversou com ele e, acreditem, ele não estava fazendo o caminho de Santiago. Na verdade, segundo contou-nos depois o próprio Holandês, ele havia feito uma aposta com seus 3 irmãos: chegaria na fronteira da França (não sei o que ele estava fazendo ali...) sem gastar um centavo sequer! Se conseguisse, cada irmão daria 1.000 euros!
Foi interessante acompanhá-lo, pois se hospedou em todos os albergues do caminho. A rotina diária consistia em, pela manhã, se “instalar” na porta de um grande mercado para mendigar e, quando estava satisfeito, ia para a cidade seguinte - de ônibus ou de trem (a barriga dele não deixava dúvidas). Em Redondela, cidade cujo albergue fica em uma torre medieval, ele mendigou em frente a um super-mercado com a seguinte placa: “peço para não roubar”. Não sei se fez sucesso. Mas, de qualquer forma, estava ele ao final do dia bebendo sua cervejinha. Aliás, era o que ele fazia ao final de todos os dias: beber MUITA cerveja. Em Pontevedra, uma das cidades do caminho, cheguei a vê-lo tomar 4 latas de 500ml, uma após a outra... E queria mais, pois veio me pedir uns trocados. Disse-lhe que se quisesse água compraria, cerveja não!
Após Padrón, última cidade antes de Santiago, perdemos contato. A última notícia foi que havia encontrado um patrício e, juntos, estavam pedindo esmola (daqui a pouco, devem fundar uma cooperativa, hehehe!). Durante o tempo em que o acompanhamos, percebemos que a história não era verdadeira (aposta com irmãos), apesar de ele não ter desmentido. Mas, não importa. Ele era (ou ainda é) boa gente. Segundo ele, chegou até a trabalhar em Araçatuba/SP: fez a tradução do manual de um aparelho de ultrassonografia.
Um detalhe que só agora me dei conta é que não sei seu nome, não sei sua cidade de origem, nem qual caminho iria fazer. Talvez, tenha sido uma das lições do caminho: não importava quem era a pessoa, de onde vinha, para onde ia. O que importava é que éramos companheiros de jornada. Isso bastava.
Beijos
Em tempo: conseguimos uma foto do sujeito. Agora, fica para vocês identificarem quem é o "holandês-bebo-todas" e quem é seu partner... facinho, facinho...
2 comentários:
Clau e Fábio,
Lendo os relatos de vcs lembro-me de 'Cidades Invisíveis', de Italo Calvino. Estou achando que esse blog ainda vai virar livro... Acho mesmo que essa é uma possibilidade a ser cogitada!As pistas podem virpor meio das setas amarelas!
Bjs, Re
Re, este eu não li!
Vou por na lista...
Rs
Bj, Clau
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