No período de nossa estada na Itália, decidi (influenciada pelo meu orientador do Brasil), a me encontrar com o professor Augusto Ponzio, um estudioso da Universidade de Bari (região da Puglia, sul do país).
Após contato feito por email ainda em Portugal, com retorno positivo para um encontro em algum lugar público, já que o mês de agosto é férias em toda a Europa e a Universidade estaria fechada. Estes contatos iniciais foram feitos com a ajuda de meus amigos 'italianos' (Gu e Ve) já que 'non parlo italiano', o que foi, obviamente, declarado ao professor.
Na Itália...
No dia 10 de agosto, conforme combinado por email com Ponzio, eu precisava ligar para ele para agendar o horário e o local de nosso encontro no dia seguinte, quando de nossa chegada a Bari. Porém, tinha um problema: meus amigos estavam de férias e já haviam embarcado para a Sicília (onde nos encontraríamos dias depois) e eu não os teria como "tradudores".
Fiz uma "cola" em um papel com um roteiro de conversa e liguei. Tudo seguia muito bem nos primeiros dois minutos de conversa até que ele diz algo que estava fora do esquema. Rs. Daí para frente foi um tal de eu dizer "non capisco professor" e ele "blá-blá-blá-blá". Enfim, ao final, entendi que nos encontraríamos em frente à Faculdade de Língua e Literatura Estrangeira às 17h.
Chegamos a Bari e já instalados no hotel (reservado desde Portugal), usamos nosso GPS para localizarmos a tal Faculdade e... estávamos simplesmente na rua de trás!
Uns 15 minutos antes do horário previsto, tive uma ligeira 'dor de barriga'. Por que será?
Estava com frio na barriga e com medo pensando no porque é que eu me metera naquela situação, já que não era falante de italiano e o professor, de nenhuma outra língua exceto a própria... Mas, a esta altura, restava caminhar uma quadra para enfrentar o desafio.
Ah! Um detalhe importante é que o assunto em pauta com o professor era um conjunto de reflexões do pensamento de um estudioso russo, um filósofo da linguagem chamado Bakhtin. Assunto bem "simplezinho" de se conversar em português... imagine em outra língua.
Cheguei ao local e depois de aguardar uns 10 minutos (e eu já achando que havia entendido o local e o endereço errados...), chega uma mulher e me pergunta - em italiano - se eu era Cláudia, estudante que se encontraria com o prof. Ponzio. Digo que sim. Ela pergunta se falo inglês. Digo que sim, pouco. Então se apresenta e diz que, a pedido do professor, participará de nosso encontro para fazer a tradução inglês-italiano e vice-versa.
Fico estarrecida com a delicadeza e preocupação do professor (ou desespero... rs)!
"A mulher" pede que eu a acompanhe na mesma rua até nosso local de encontro. Caminhamos dois quarteirões. Ela toca a campainha em um prédio e conversa, em italiano, com Maria que nos pede para subir. Entramos no prédio e ela me diz que o professor decidiu nos encontrarmos na casa dele mesmo e que estávamos subindo até lá.
Fico surpresa em saber que ele me receberia na própria casa!
Maria, esposa de Ponzio, nos recebe e nos acompanha à sala pedindo para aguardarmos o professor. Ele chega, cumprimenta-nos, e "a mulher" vai fazendo a tradução deste começo de conversa.
Neste início, o papo girou em torno da razão de eu ter ido ao encontro dele, se conhecia suas publicações (a cada uma que perguntava, levantava-se, ia buscar um exemplar, trazia e me mostrava). Maria propõe-nos um chá gelado. Todos aceitamos.
Eu, com a dor de barriga já indo embora, percebi que conseguia compreender o professor sem que houvesse necessidade de tradução. Pedi "à mulher" se poderíamos manter a conversa em italiano e eu, perguntaria o que não compreendesse ou o que quisesse esclarecer em termos de conteúdo, em inglês.
O professor pergunta o que eu gostaria de conversar com ele e eu - com uma lista de coisas - para fazer a primeira questão, pergunto "à mulher" se ela tinha leituras de Bakhtin já que é um autor difícil e fazer este papel de "tradução" comigo não seria nada fácil. E fico então sabendo que "a mulher" é Susan Petrilli, a tradutora de todas as obras de Ponzio e que também é professora na Faculdade de Letras na Universidade de Bari. Tudo mais simples, ao menos para mim. Faço a primeira pergunta e ele fica olhando fixamente para mim e eu, por outro lado, tentando olhar para Susan.
De repente ele me pergunta se eu não falava espanhol, pois é uma língua que ele consegue entender e que ele queria entender o que eu falava ainda que precisasse do apoio de Susan. Digo que sim, um pouco.
Neste momento, de fato, começamos nossa conversa a quatro: eu, Ponzio, Susan e Maria (que é antropóloga e também professora na Universidade de Bari).
Em uma mistura de línguas, de áreas de conhecimento, de experiência e de idade, nossas palavras forma se misturando, se entrelaçando, constituindo-se em própria-alheias-próprias. Foi um diálogo riquíssimo!
Às 20h nos damos conta de que estávamos "exaustos" e que era o momento de encerrar a conversa (e eu fizera somente a primeira pergunta...).
Começamos, então, outro papo sobre a política no Brasil, o ensino superior em São Paulo, sobre viagens, sobre a Itália, sobre nossas famílias. E, antes da despedida final, pedi licença para fazer uma foto: uma de nós quatro e outra, somente com o professor e no escritório dele (me leva para conhecer, mostra sua 'pequena' biblioteca, as coleções, as caricaturas etc.).
Susan e eu trocávamos endereços de contato e o professor Ponzio traz um conjunto de livros para me presentear (de autoria dele e de Maria).
Fico lisonjeada com o(s) presente(s)!
Na despedida, o agradecimento profundo pelo acontecimento único daquele fim-de-tarde e começo-de-noite.
Susan, na saída, diz que me acompanharia porque queria que eu conhecesse um casal de sobrinhos, australianos, que estavam hospedados na casa dela de férias.
Resumo: no dia seguinte, fazemos um passeio pelos arredores de Bari a 4: eu, Fabio, Nicole e Luke. Amazing day! New friends!
No retorno a Bari, Susan nos aguarda na casa dela: tomamos um "gelato", um café, papeamos um pouco e, definitivamente, nos despedimos.
Tarde da noite, quando retornamos para o hotel depois da devolução do carro alugado no aeroporto, há um material para mim na recepção: um bilhete carinhoso e um conjunto de livros. Presentes de Susan agradecendo nossos encontros e colocando-se à disposição.
Sem palavras.
Viajar para Bari foi um acontecimento F E N O M E N A L!!
Um comentário:
Esse blog nao so me eleva o espirito como também me deixa feliz em ver o quao abencoados estao sendo (a altura que merecem!)
Bjs
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