terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sessão terapêutica!

Hoje estou crítica-reflexiva em relação ao universo acadêmico (refiro-me a Portugal e ao Brasil) diante de tantos critérios para nos dizer o que é e o que não é, o que pode e o que não pode, o que 'deve' e o que não 'deve' ser relevante e considerado como Ciência. Acham (e nós muitas vezes também achamos) que deste lugar de poder - a academia - o que se visualiza é o conhecimento 'científico', 'puro', como se fosse possível dissociá-lo de nossa humanidade e de tudo o que, porque a ciência é do humano, está no entorno dela.
Ontem li um poema de Fernando Pessoa-Álvaro de Campos adaptado por Alexandre Costa que traduz um pouco o que, em geral, se diz-pensa neste lugar (In Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso – GEGe. CÍRCULO – Rodas de Conversa Bakhtiniana 2009 – Caderno de Textos e Anotações. São Carlos: Pedro & João Editores. 2009. 420p.)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo...
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza...

Mas, como há sempre alguma pontinha de luz em algum lugar... Sempre há uma esperança!
Sempre há brechas nas quais podemos respirar e encontrar fôlego para continuar. E lutar. E defender a multiplicidade e a complexidade de conhecimentoS que nos constituem.
Em nossa profunda humanidade.
Em nossa humildade profunda.
Como gente que somos e nos fazemos a cada dia.
Ética e esteticamente.
Por isto, agradeço à querida Rosa Nunes, professora portuguesa, por nossos encontros e pelas brechas possíveis para um conhecimento outro!

Bjs, Claudinha

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